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Quiosque “Dá Cácilhas” – Largo Alfredo Diniz

Marco Mendes
À frente do quiosque “Dá Cá Cilhas”, no Largo Alfredo Diniz. Cacilhas é onde começa o Sul, um ponto de chegada e partida, onde vem parar todo o tipo de gentes, turistas e os perdidos. O quiosque tem uma dinâmica especial, criando uma diversidade de relações humanas, desde os cidadãos que usam os transportes, aos residentes e aos turistas, e até aqui se iniciaram muitos relacionamentos amorosos. Cacilhas nunca esteve muito preparada para o turismo, facilitando saber falar algumas línguas. Ouve histórias e conta histórias de Cacilhas, onde as personagens são figuras típicas: Espanta Lobos (Álvaro, um lobo do mar), Rui Palhaço (pescador) e Cipriano (polícia marítimo), com quem se cruzou.
Sente-se feliz aqui porque a comunidade é muito solidária para com os necessitados (assim aconteceu durante a pandemia), conhece muitas pessoas e conta histórias da cidade e de Cacilhas. Pensa que o local será sempre de restauração, temendo que não se descaracterize se apenas existirem turistas.
Recuperou uma ideia em desuso, a troca de postais, que criou com o apoio artístico do fotógrafo Vitor Cid, oferecendo 2 postais: um para a pessoa e o segundo para lhe enviarem do lugar da sua origem, tendo recebido muitos, sendo o mais distante vindo da Austrália.

Aleksandra Gola
Italiana do Sul, de 28 anos, vive em Cacilhas desde 2021, trabalha como Content Moderator numa empresa de Telemarketing.
Chegada a Cacilhas quando se iniciavam as obras de requalificação, aqui encontrou o ambiente familiar e acolhedor que tinha na sua cidade natal. Prefere Cacilhas a Lisboa, assim como os seus amigos que residem na outra margem. Do Jardim do Rio tem-se a melhor vista da capital, e em Cacilhas consome-se por preços mais apelativos.
Que após o dia de trabalho, a podem encontrar, a par de outros nómadas digitais, no quiosque do Marco (Dá Cácilhas) a beber um copo, frequentando e fazendo parte dos eventos culturais locais.
Manuel Antunes (Manelito)
Vendedor de rua, nasceu na Quinta da Alegria mas viveu sempre em Cacilhas, que considera a sua terra.
A sua infância foi bastante pobre pelo que frequentando escolas (António da Costa, Emídio Navarro) onde os alunos eram obrigados a usar sapatos, calçava-os sem sola, julgando-o deficiente motor porque arrastava os pés, para não verem que não tinha sola. Não completou o Curso Geral de Eletricidade.
Foi um jovem muito irrequieto que saltava para o cacilheiro e não pagava bilhete. Na altura, os miúdos nadavam todos nus na praia do Ginjal, e um dia um guarda fiscal para o castigar, apreendeu-lhe a roupa e teve de voltar despido para casa.
Não completou o Curso Geral de Eletricidade. Fez a tropa nos Comandos e viveu o 25 de Novembro de 1975 (movimentação militar conduzida por partes das Forças Armadas Portuguesas, cujo resultado levou ao fim do Processo Revolucionário em Curso (PREC).
Em Cacilhas, frequentou bailes, praticou natação e desporto e foi treinador em diversas associações, onde foi e é associado, sendo actualmente dirigente associativo de do Clube Recreativo União Raposense, na Caparica.
Teve vários empregos: em empresas locais em Almada, Arsenal do Alfeite, Lisnave, H. Parry & Son, CUF, Siderurgia Nacional, vendedor na rua, pescador, fabricante de formas em folha de metal para pastelaria com as suas irmãs, e é presentemente, feirante (como praticamente todos os seus familiares), percorrendo o país.
Antigamente, Cacilhas tinha muito movimento, brincava-se na rua, vendiam-se copos de camarão, e as pessoas conviviam mais, julgando no entanto, que as obras de requalificação desenvolveram o local de forma positiva. “Cacilhas era muito diferente, deve é continuar a olhar o mar”
Laura Penez
Francesa, ilustradora e designer gráfica. Numa estadia de uns dias em Portugal descobriu Cacilhas, para si um lugar mágico com luz especial, junto ao Tejo, repleto de histórias e tradições, inspirador, onde encontrou pescadores, uma mulher pescadora maravilhosa e muitas personagens da história local. Onde o pôr do sol é tranquilizador. A paisagem, o rio Tejo, a luz, as histórias e suas gentes incentivaram a sua criatividade, guiando as suas mãos a desenhar, e espicaçou sua curiosidade em descobrir este lugar único, onde quis pertencer. Foi artista residente do Arroz Estúdios, com outros artistas de várias áreas e nacionalidades, e junto ao rio Tejo, no Ginjal com amigas, editou um livro com desenhos, ilustrações, textos e pesquisas de Cacilhas denominado por “Do outro lado do Rio”. Considera que no conjunto de edifícios abandonados no Ginjal, deveriam criar-se colectivos, associações para artistas locais e outros, para que a magia não acabe.