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Restaurante “O Mirrita” – Rua Cândido dos Reis 111

Augusto Lopes
Nascido em Loredo (Vieira de Minho), trabalha em Cacilhas há 50 anos. Foi empregado de mesa, sócio da Cervejaria “O Rei da Sardinha Assada” na Rua Cândido dos Reis, fechando diariamente às 2 da manhã mas que a demora na execução das obras de pedonalização obrigou a encerrar, e actualmente gere o restaurante “O Mirrita” na mesma rua.
Conheceu a Cândido dos Reis onde vinham de pessoas de Lisboa, aqui cortar o cabelo e engraxar os sapatos, por ser mais barato. No Ginjal existiam diversos restaurantes, cada um com o seu porteiro a anunciar as especialidades da casa. A Rua Cândido dos Reis era passagem para diversas carreiras de autocarros.
Durante a época do confinamento pandémico, o Mirrita apenas encerrou dois dias, alimentando em regime take-away, os locais. Num desses dias, foi abordado por um policia porque estava a oferecer um café a um idoso, tendo que o levar às escondidas para que o pudesse beber. Manteve o restaurante aberto e pagou salários aos empregados durante os confinamentos, Na Páscoa de 2020, colocou um anúncio na montra do restaurante que iria fazer caracóis e nunca tinha visto uma fila tão grande, vendeu 30 kgs de caracóis nesse dia.
Já ganhou um 1.º prémio no concurso e já lhe entrou um burro pela esplanada adentro quando fazia inversão de marcha, compreendendo que a Rua Cândido dos Reis não tem presentemente capacidade para receber as Burricadas.
Manuel Antunes (Manelito)
Vendedor de rua, nasceu na Quinta da Alegria mas viveu sempre em Cacilhas, que considera a sua terra.
A sua infância foi bastante pobre pelo que frequentando escolas (António da Costa, Emídio Navarro) onde os alunos eram obrigados a usar sapatos, calçava-os sem sola, julgando-o deficiente motor porque arrastava os pés, para não verem que não tinha sola. Não completou o Curso Geral de Eletricidade.
Foi um jovem muito irrequieto que saltava para o cacilheiro e não pagava bilhete. Na altura, os miúdos nadavam todos nus na praia do Ginjal, e um dia um guarda fiscal para o castigar, apreendeu-lhe a roupa e teve de voltar despido para casa.
Não completou o Curso Geral de Eletricidade. Fez a tropa nos Comandos e viveu o 25 de Novembro de 1975 (movimentação militar conduzida por partes das Forças Armadas Portuguesas, cujo resultado levou ao fim do Processo Revolucionário em Curso (PREC).
Em Cacilhas, frequentou bailes, praticou natação e desporto e foi treinador em diversas associações, onde foi e é associado, sendo actualmente dirigente associativo de do Clube Recreativo União Raposense, na Caparica.
Teve vários empregos: em empresas locais em Almada, Arsenal do Alfeite, Lisnave, H. Parry & Son, CUF, Siderurgia Nacional, vendedor na rua, pescador, fabricante de formas em folha de metal para pastelaria com as suas irmãs, e é presentemente, feirante (como praticamente todos os seus familiares), percorrendo o país.
Antigamente, Cacilhas tinha muito movimento, brincava-se na rua, vendiam-se copos de camarão, e as pessoas conviviam mais, julgando no entanto, que as obras de requalificação desenvolveram o local de forma positiva. “Cacilhas era muito diferente, deve é continuar a olhar o mar”
Laura Penez
Francesa, ilustradora e designer gráfica. Numa estadia de uns dias em Portugal descobriu Cacilhas, para si um lugar mágico com luz especial, junto ao Tejo, repleto de histórias e tradições, inspirador, onde encontrou pescadores, uma mulher pescadora maravilhosa e muitas personagens da história local. Onde o pôr do sol é tranquilizador. A paisagem, o rio Tejo, a luz, as histórias e suas gentes incentivaram a sua criatividade, guiando as suas mãos a desenhar, e espicaçou sua curiosidade em descobrir este lugar único, onde quis pertencer. Foi artista residente do Arroz Estúdios, com outros artistas de várias áreas e nacionalidades, e junto ao rio Tejo, no Ginjal com amigas, editou um livro com desenhos, ilustrações, textos e pesquisas de Cacilhas denominado por “Do outro lado do Rio”. Considera que no conjunto de edifícios abandonados no Ginjal, deveriam criar-se colectivos, associações para artistas locais e outros, para que a magia não acabe.