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Restaurante "O Escondidinho de Cacilhas" - Largo Alfredo Diniz

Felismina Gonçalves
Natural de Pampilhosa da Serra, reside em Cacilhas há mais de 40 anos, dirige a cozinha do Restaurante Escondidinho, o que fez durante muitos anos, na companhia do seu marido, e trata todos os clientes como seus amigos.
Mulher de muita fé, diz, nos anos 80, ter assistido a um “milagre” de Nossa Senhora do Bom Sucesso pois um autocarro da Rodoviária Nacional perdeu os travões e embateu no restaurante, e que se o cacilheiro tivesse atracado a horas, teria feito muitas vítimas.
Tem o horário dos Cacilheiros afixado na parede para que ninguém perca a hora de chegar à capital.
Durante o confinamento decorrente do evento pandémico (covid-19), nunca negou um prato de comida a quem necessitasse.

Carlos Costa
Sub-Gerente do Restaurante Escondidinho de Cacilhas, fundado em 1895 como taberna, mantendo à data, muitos petiscos da cozinha tradicional portuguesa. Filho do falecido gerente, Anibal Costa, que assava peixe no exterior, de boné. O Pai nunca negou um prato de comida aos pobres que necessitavam. Ainda mantêm no local uma ardósia com a última ementa, do dia, escrita pelo punho do Pai.
Diz que Cacilhas é um sítio muito emblemático, para passeio, sendo também de passagem. As obras de requalificação impediram o restaurante de trabalhar durante alguns meses mas beneficiaram o local, urgindo tratar-se do Ginjal.

Manuel Trindade (“Madruga”)
Empregado de mesa do Restaurante Escondidinho, nasceu em Cacilhas. Antigamente era mais bonita, tinha vida, devendo ser considerada uma zona histórica. Considera que as obras de requalificação do local não beneficiaram Cacilhas, assim se queixam as pessoas mais idosas, dando lugar a encerramento de estabelecimentos comerciais como lojas, tabernas e mercearias, e à diminuição do número de turistas.
Possui uma vasta colecção de livros antigos, sobre a história local.
A pensão Célia, que funciona em cima do restaurante, a determinada altura deu apoio de alojamento aos sem-abrigo, com o apoio da Câmara Municipal de Almada, sendo o apoio alimentar dado pelo Escondidinho.
Manuel Antunes (Manelito)
Vendedor de rua, nasceu na Quinta da Alegria mas viveu sempre em Cacilhas, que considera a sua terra.
A sua infância foi bastante pobre pelo que frequentando escolas (António da Costa, Emídio Navarro) onde os alunos eram obrigados a usar sapatos, calçava-os sem sola, julgando-o deficiente motor porque arrastava os pés, para não verem que não tinha sola. Não completou o Curso Geral de Eletricidade.
Foi um jovem muito irrequieto que saltava para o cacilheiro e não pagava bilhete. Na altura, os miúdos nadavam todos nus na praia do Ginjal, e um dia um guarda fiscal para o castigar, apreendeu-lhe a roupa e teve de voltar despido para casa.
Não completou o Curso Geral de Eletricidade. Fez a tropa nos Comandos e viveu o 25 de Novembro de 1975 (movimentação militar conduzida por partes das Forças Armadas Portuguesas, cujo resultado levou ao fim do Processo Revolucionário em Curso (PREC).
Em Cacilhas, frequentou bailes, praticou natação e desporto e foi treinador em diversas associações, onde foi e é associado, sendo actualmente dirigente associativo de do Clube Recreativo União Raposense, na Caparica.
Teve vários empregos: em empresas locais em Almada, Arsenal do Alfeite, Lisnave, H. Parry & Son, CUF, Siderurgia Nacional, vendedor na rua, pescador, fabricante de formas em folha de metal para pastelaria com as suas irmãs, e é presentemente, feirante (como praticamente todos os seus familiares), percorrendo o país.
Antigamente, Cacilhas tinha muito movimento, brincava-se na rua, vendiam-se copos de camarão, e as pessoas conviviam mais, julgando no entanto, que as obras de requalificação desenvolveram o local de forma positiva. “Cacilhas era muito diferente, deve é continuar a olhar o mar”
Laura Penez
Francesa, ilustradora e designer gráfica. Numa estadia de uns dias em Portugal descobriu Cacilhas, para si um lugar mágico com luz especial, junto ao Tejo, repleto de histórias e tradições, inspirador, onde encontrou pescadores, uma mulher pescadora maravilhosa e muitas personagens da história local. Onde o pôr do sol é tranquilizador. A paisagem, o rio Tejo, a luz, as histórias e suas gentes incentivaram a sua criatividade, guiando as suas mãos a desenhar, e espicaçou sua curiosidade em descobrir este lugar único, onde quis pertencer. Foi artista residente do Arroz Estúdios, com outros artistas de várias áreas e nacionalidades, e junto ao rio Tejo, no Ginjal com amigas, editou um livro com desenhos, ilustrações, textos e pesquisas de Cacilhas denominado por “Do outro lado do Rio”. Considera que no conjunto de edifícios abandonados no Ginjal, deveriam criar-se colectivos, associações para artistas locais e outros, para que a magia não acabe.